segunda-feira, 17 de setembro de 2018

YOU AND THE OTHERS - Readings in Introductory Anthropology

Horace Miner. In: A. K. Rooney e P. L. de Vore (orgs). (Cambridge, Erlich). 1976. Tradução: Ritos corporais entre os nacirema.


1 - O antropólogo está tão familiarizado com a diversidade das formas de comportamento que diferentes povos apresentam em situações semelhantes, que é incapaz de surpreender-se mesmo em face dos costumes mais exóticos. De fato, se nem todas as combinações logicamente possíveis de comportamento foram ainda descobertas, o antropólogo bem pode conjeturar que elas devam existir em alguma tribo ainda não descrita.

2 - Deste ponto de vista, as crenças e práticas mágicas dos Nacirema apresentam aspectos tão inusitados que parece apropriado descrevê-los como exemplo dos extremos a que pode chegar o comportamento humano. Foi o Professor Linton, em 1936, o primeiro a chamar a atenção dos antropólogos para os rituais dos Nacirema, mas a cultura desse povo permanece insuficientemente compreendida ainda hoje.

3 - Trata-se de um grupo norte-americano que vive no território entre os Cree do Canadá, os Yaqui e os Tarahumare do México, e os Carib e Arawak das Antilhas. Pouco se sabe sobre sua origem, embora a tradição relate que vieram do leste. Conforme a mitologia dos Nacirema, um herói cultural, Notgnihsaw, deu origem à sua nação; ele é, por outro lado, conhecido por duas façanhas de força: ter atirado um colar de conchas, usado pelos Nacirema como dinheiro, através do rio Po-To-Mac e ter derrubado uma cerejeira na qual residiria o Espírito da Verdade. 

4 - A cultura Nacirema caracteriza-se por uma economia de mercado altamente desenvolvida, que evolui em um rico habitat. Apesar do povo dedicar muito do seu tempo às atividades econômicas, uma grande parte dos frutos deste trabalho e uma considerável porção do dia são dispensados em atividades rituais. O foco destas atividades é o corpo humano, cuja aparência e saúde surgem como o interesse dominante no ethos deste povo.

5 - Embora tal tipo de interesse não seja, por certo, raro, seus aspectos cerimoniais e a filosofia a eles associadas são singulares. A crença fundamental subjacente a todo o sistema parece ser a de que o corpo humano é repugnante e que sua tendência natural é para a debilidade e a doença. Encarcerado em tal corpo, a única esperança do homem é desviar estas características através do uso das poderosas influências do ritual e do cerimonial. Cada moradia tem um ou mais santuários devotados a este propósito. 

6 - Os indivíduos mais poderosos desta sociedade têm muitos santuários em suas casas e, de fato, a alusão à opulência de uma casa, muito frequentemente, é feita em termos do número de tais centros rituais que possua. Muitas casas são construções de madeira, toscamente pintadas, mas as câmeras de culto das mais ricas têm paredes de pedra. As famílias mais pobres imitam as ricas, aplicando placas de cerâmica às paredes de seu santuário. 

7 - Embora cada família tenha pelo menos um de tais santuários, os rituais a eles associados não são cerimônias familiares, mas sim cerimônias privadas e secretas. Os ritos, normalmente, são discutidos apenas com as crianças e, neste caso, somente durante o período em que estão sendo iniciadas em seus mistérios. Eu pude, contudo, estabelecer contato suficiente com os nativos para examinar estes santuários e obter descrições dos rituais.

8 - O ponto focal do santuário é uma caixa ou cofre embutido na parede. Neste cofre são guardados os inúmeros encantamentos e poções mágicas sem os quais nenhum nativo acredita que poderia viver. Tais preparados são conseguidos através de uma série de profissionais especializados, os mais poderosos dos quais são os médicos-feiticeiros, cujo auxilio deve ser recompensado com dádivas substanciais. Contudo, os médicos feiticeiros não fornecem a seus clientes as poções de cura; somente decidem quais devem ser seus ingredientes e então os escrevem em sua linguagem antiga e secreta. Esta escrita é entendida apenas pelos médicos-feiticeiros e pelos ervatários, os quais, em troca de outra dadiva, providenciam o encantamento necessário. 

9 - Os Nacirema não se desfazem do encantamento após seu uso, mas os colocam na caixa de encantamento do santuário doméstico. Como tais substâncias mágicas são especificas para certas doenças e as doenças do povo, reais ou imaginárias, são muitas, a caixa-de encantamentos está geralmente a ponto de transbordar. Os pacotes mágicos são tão numerosos que as pessoas esquecem quais são suas finalidades e temem usá-los de novo. 

10 - Embora os nativos sejam muito vagos quanto a este aspecto, só podemos concluir que aquilo que os leva a conservar todas as velhas substâncias é a ideia de que sua presença na caixa de encantamentos, em frente à qual são efetuados os ritos corporais, irá, de alguma forma, proteger o adorador.

11 - Abaixo da caixa-de-encantamentos existe uma pequena pia batismal. Todos os dias cada membro da família, um após o outro, entra no santuário, inclina sua fronte ante a caixa de encantamentos, mistura diferentes tipos de águas sagradas na pia batismal e procede a um breve rito de ablução. As águas sagradas vêm do Templo da Água da comunidade, onde os sacerdotes executam elaboradas cerimônias para tornar o líquido ritualmente puro.

12 - Na hierarquia dos mágicos profissionais, logo abaixo dos médicos-feiticeiros no que diz respeito ao prestígio, estão os especialistas cuja designação pode ser traduzida por "sagradoshomens-da-boca". Os Nacirema têm um horror quase que patológico, e ao mesmo tempo fascinação, pela cavidade bucal, cujo estado acreditam ter uma influência sobre todas as relações sociais. Acreditam que, se não fosse pelos rituais bucais seus dentes cairiam, seus amigos os abandonariam e seus namorados os rejeitariam. Acreditam também na existência de uma forte relação entre as características orais e as morais:

13 - Existe, por exemplo, uma ablução ritual da boca para as crianças que se supõe aprimorar sua fibra moral. O ritual do corpo executado diariamente por cada Nacirema inclui um rito bucal. Apesar de serem tão escrupulosos no cuidado bucal, este rito envolve uma prática que choca o estrangeiro não iniciado, que só pode considerá-lo revoltante.

14 - Foi-me relatado que o ritual consiste na inserção de um pequeno feixe de cerdas de porco na boca juntamente com certos pós mágicos, e em movimentá-lo então numa série de gestos altamente formalizados. Além do ritual bucal privado, as pessoas procuram o mencionado sacerdote-da-boca uma ou duas vezes ao ano. Estes profissionais têm uma impressionante coleção de instrumentos, consistindo de brocas, furadores, sondas e aguilhões. O uso destes objetos no exorcismo dos demônios bucais envolve, para o cliente, uma tortura ritual quase inacreditável. O sacerdote-da-boca abre a boca do cliente e, usando os instrumentos acima citados, alarga todas as cavidades que a degeneração possa ter produzido nos dentes.

15 - Nestas cavidades são colocadas substâncias mágicas. Caso não existam cavidades naturais nos dentes, grandes seções de um ou mais dentes são extirpadas para que a substância natural possa ser aplicada. Do ponto de vista do cliente, o propósito destas aplicações é tolher a degeneração e atrair amigos. 

16 - O caráter extremamente sagrado e tradicional do rito evidencia-se pelo fato de os nativos voltarem ao sacerdote-da-boca ano após ano, não obstante o fato de seus dentes continuarem a degenerar.

17 - Esperemos que quando for realizado um estudo completo dos Nacirema haja um inquérito cuidadoso sobre a estrutura da personalidade destas pessoas, Basta observar o fulgor nos olhos de um sacerdote-da- boca, quando ele enfia um furador num nervo exposto, para se suspeitar que este rito envolve certa dose de sadismo. Se isto puder ser provado, teremos um modelo muito interessante, pois a maioria da população demonstra tendências masoquistas bem definidas. 

18 - Foi a estas tendências que o Prof. Linton (1936) se referiu na discussão de uma parte específica dos ritos corporal que é desempenhada apenas por homens. Esta parte do rito envolve raspar e lacerar a superfície da face com um instrumento afiado.
Ritos especificamente femininos têm lugar apenas quatro vezes durante cada mês lunar, mas o que lhes falta em frequência é compensado em barbaridade. Como parte desta cerimônia, as mulheres usam colocar suas cabeças em pequenos fornos por cerca de uma hora. O aspecto teoricamente interessante é que um povo que parece ser preponderantemente masoquista tenha desenvolvido especialistas sádicos.

19 - Os médicos-feiticeiros têm um templo imponente, ou latipsoh, em cada comunidade de certo porte. As cerimônias mais elaboradas, necessárias para tratar de pacientes muito doentes, só podem ser executadas neste templo. Estas cerimônias envolvem não apenas o taumaturgo, mas um grupo permanente de vestais que, com roupas e toucados específicos, movimentam-se serenamente pelas câmaras do templo.

20 - As cerimonias latipsoh são tão cruéis que é de surpreender que uma boa proporção de nativos realmente doentes que entram no templo se recuperem. Sabe-se que as crianças pequenas, cuja doutrinação ainda é incompleta, resistem às tentativas de leva-las ao templo, porque "é lá que se vai para morrer". 

21 - Apesar disto, adultos doentes não apenas querem, mas anseiam por sofrer os prolongados rituais de purificação, quando possuem recursos para tanto. Não importa quão doente esteja o suplicante ou quão grave seja a emergência, os guardiões de muitos templos não admitirão um cliente se ele não puder dar uma dádiva valiosa para a administração. Mesmo depois de ter-se conseguido a admissão, e sobrevivido às cerimônias, os guardiães não permitirão ao neófito abandonar o local se ele não fizer outra doação.

22 - O suplicante que entra no templo é primeiramente despido de todas as suas roupas. Na vida cotidiana o Nacirema evita a exposição de seu corpo e de suas funções naturais. As atividades excretoras e o banho, enquanto parte dos ritos corporais, são realizados apenas no segredo do santuário doméstico. Da perda súbita do segredo do corpo quando da entrada no latipsoh, podem resultar traumas psicológicos. Um homem, cuja própria esposa nunca o viu em um ato excretor, acha-se subitamente nu e auxiliado por uma vestal, enquanto executa suas funções naturais num recipiente sagrado. 

23 - Este tipo de tratamento cerimonial é necessário porque os excreta são usados por um adivinho para averiguar o curso e a natureza da enfermidade do cliente. Clientes do sexo feminino, por sua vez, têm seus corpos nus submetidos ao escrutínio, manipulação e aguilhadas dos médicos-feiticeiros. Poucos suplicantes no templo estão suficientemente bons para fazer qualquer coisa além de jazer em duros leitos. 

24 - As cerimônias diárias, como os ritos do sacerdote-da-boca, envolvem desconforto e tortura. Com precisão ritual as vestais despertam seus miseráveis fardos a cada madrugada e os rolam em seus leitos de dor enquanto executam abluções, com os movimentos formais nos quais estas virgens são altamente treinadas. Em outras horas, elas inserem bastões mágicos na boca do suplicante ou o forçam a engolir substâncias que se supõe serem curativas.

25 - De tempos em tempos o médico-feiticeiro vem ver seus clientes e espeta agulhas magicamente tratadas em sua carne. O fato de que estas cerimônias do templo possam não curar, e possam mesmo matar o neófito, não diminui de modo algum a fé das pessoas no médico feiticeiro. Resta ainda um outro tipo de profissional, conhecido como um "ouvinte". Este "doutor-bruxo" tem o poder de exorcizar os demônios que se alojam nas cabeças das pessoas enfeitiçadas.

26 - Os Nacirema acreditam que os pais enfeitiçam seus próprios filhos; particularmente, teme-se que as mães lancem uma maldição sobre as crianças enquanto lhes ensinam os ritos corporais secretos. A contra-magia do doutor bruxo é inusitada por sua carência de ritual. O paciente simplesmente conta ao "ouvinte" todos os seus problemas e temores, principalmente pelas dificuldades iniciais que consegue rememorar. 

27 - A memória demonstrada pelos Nacirema nestas sessões de exorcismo é verdadeiramente notável. Não é incomum um paciente deplorar a rejeição que sentiu, quando bebê, ao ser desmamado, e uns poucos indivíduos reportam a origem de seus problemas aos feitos traumáticos de seu próprio nascimento. 

28 - Como conclusão, deve-se fazer referência a certas práticas que têm suas bases na estética nativa, mas que decorrem da aversão profunda ao corpo natural e suas funções. Existem jejuns rituais para tornar magras pessoas gordas, e banquetes cerimoniais para tornar gordas pessoas magras. Outros ritos são usados para tornar maiores os seios das mulheres que os têm pequenos e torná-los menores quando são grandes. 

29 - A insatisfação geral com o tamanho do seio é simbolizada no fato de a forma ideal estar virtualmente além da escala de variação humana. Umas poucas mulheres, dotadas de um desenvolvimento hipermamário quase inumano, são tão idolatradas que podem levar uma boa vida simplesmente indo de cidade em cidade e permitindo aos embasbacados nativos, em troca de uma taxa, contemplarem-nos.

30 - Já fizemos referência ao fato de que as funções excretoras são ritualizadas, rotinizadas e relegadas ao segredo. As funções naturais de reprodução são, da mesma forma, distorcidas. O intercurso sexual é tabu enquanto assunto, e é programado enquanto ato. São feitos esforços para evitar a gravidez, pelo uso de substâncias mágicas ou pela limitação do intercurso sexual a certas fases da lua. 

31 - A concepção é na realidade, pouco frequente. Quando grávidas as mulheres vestem-se de modo a esconder o estado. O parto tem lugar em segredo, sem amigos ou parentes para ajudar, e a maioria das mulheres não amamenta seus rebentos.

32 - Nossa análise da vida ritual dos Nacirema certamente demonstrou ser este povo dominado pela crença na magia. É difícil compreender como tal povo conseguiu sobreviver por tão longo tempo sob a carga que impôs sobre si mesmo. Mas até costumes tão exóticos quanto estes aqui descritos ganham seu real significado quando são encarados sob o ângulo relevado por Malinowski, quando escreveu:

33 - "Olhando de longe e de cima de nossos altos postos de segurança na civilização desenvolvida, é fácil perceber toda a crueza e irrelevância da magia. Mas sem seu poder de orientação, o homem primitivo não poderia ter dominado, como o fez, suas dificuldades práticas, nem poderia ter avançado aos estágios mais altos da civilização"
(nota: para quem não percebeu, Nacirema é American, de trás para a frente - R.A.)
Fonte: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/364413/mod_resource/content/0/Nacirema.pdf

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

OFICINAS DE LEITURAS, DEBATES, PALESTRAS E VISITAS TÉCNICAS




1 - A “uberização” e as encruzilhadas do mundo do trabalho
Data: Terça-feira, 10 de outubro de 2017
Fonte:http://www.ihuonline.unisinos.br/media/pdf/IHUOnlineEdicao503.pdf

2 - Maquiavel e as milicias no Rio
Data: Terça-feira, 14 de novembro de 2017
Fonte: dissertação http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/handle/1843/BUBD-A96G3Q/mil_cia_e_vida_c_vica_no_pensamento_de_maquiavel.pdf?sequence=1

3 - Próxima atividade. Debate: “Síria em Fuga”
Data: Terça-feira, 28 de novembro de 2017
Documentário: https://www.youtube.com/watch?v=MdE4vujvz6c

4 - Visita técnica. IPI. Instituto dos Pretos Novos.
Data: Sábado, 04 de dezembro de 2017, das 11 as 14h
Fonte:http://pretosnovos.com.br/
Endereço: Rua Pedro Ernestro, 32 - Gamboa. Rio de Janeiro – RJ. CEP: 20.220-350
E-Mail: pretosnovos@pretosnovos.com.br -  Telefone: (21) 2516-7089

5 - OFICINA DE LEITURA. POR ONDE ANDA A GLOBALIZAÇÃO?
“POR UMA OUTRA GLOBALIZAÇÃO: DO PENSAMENTO ÚNICO À CONSCIÊNCIA UNIVERSAL” DE MILTON SANTOS
Data: 4a. feira dia 28 de abril de 2018
Fonte: http://www.culturasjuridicas.uff.br/index.php/rcj/article/view/464/182

6 - OFICINA DE LEITURA. FEMINICÍDIO E VIOLÊNCIAS CONTRA A MULHER
POR QUÉ LA MASCULINIDAD SE TRANSFORMA EN VIOLÊNCIA DE GÉNERO.
Data: . 4ª. Feira 11 de abril de 2018
Fonte: Site: http://www.lavoz.com.ar/ciudadanos/por-que-la-masculinidad-se-transforma-en-violencia

7 - OFICINA DE LEITURA. O NOVO PAPEL DOS EUA NO MUNDO.
ARTIGO: A NOVA ESTRATÉGIA AMERICANA.
AUTOR: JOSÉ LUIS FIORI.  Professor de Economia Política Internacional da UFRJ
Domingo, 4 de março de 2018. Caderno Opinião, pág. 11
http://www.jb.com.br/media/jornaldigital/pdfs/JB_0403.pdf

8 - OFICINA DE LEITURA. O NOVO SISTEMA TRUMP.
JORNAL EL PAIS.  22 DE JANEIRO DE 2017.
TRUMP Y EL SISTEMA. AUTOR: PABLO GENTILI
Fonte: https://elpais.com/elpais/2017/01/22/contrapuntos/1485066672_148506.html


Oficina de leitura com debate: A elite do atraso: Da escravidão à Lava Jato.
23/08/2018. 18h.
Autor: Jessé de Souza.
Resenha. https://revistacult.uol.com.br/home/jesse-souza-a-elite-do-atraso/


10- Oficina de leitura com debate: A DIFÍCIL DEMOCRACIA. SãPaulo: Ed. Boitempo, 2016, 220p.  30/08/2018. 18h.
Autor: Boaventura de Sousa Santos
Resenha. http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:e0ngMNgdZMUJ:periodicos.ufes.br/argumentum/article/view/16946+&cd=4&hl=pt-PT&ct=clnk&gl=br


11- VISITA TÉCNICA: VIAGEM À PEQUENA ÁFRICA. 
Ponto de encontro. Av. Pres. Vargas, 642 esquina com rua Uruguaiana. 
Data: 15 de setembro de 2018. Hora: 9:00h


segunda-feira, 30 de julho de 2018

Resenha do livro. A DIFÍCIL DEMOCRACIA. Autor: Boaventura de Sousa Santos


A DIFÍCIL DEMOCRACIA: REINVENTAR AS ESQUERDAS.
Autor: Boaventura de Sousa Santos
São Paulo: Ed. Boitempo, 2016, 220p.

Autora: PEREIRA, Célia Barbosa da Silva. Doutoranda em Política Social pelo Programa de Pós-Graduação em Política Social pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes, Brasil). E-mail: .

Publicado em: DOI: http://10.18315/argum..v9i2.16946183Argum., Vitória, v. 9, n. 2, p. 183-186, maio/ago. 2017.

Com uma produção acadêmica e literária extremamente vasta e publicada em diferentes línguas, Boaventura de Souza Santos já foi premiado em diversos países, dispensando a necessidade de maiores apresentações. Dentre as temáticas trabalhadas ao longo de sua carreira, a democracia é, sem dúvida alguma, a que o teórico luso possui maior propriedade no debate, sendo esta o núcleo do livro aqui resenhado.
Este é composto por uma compilação de textos escritos em momentos diferentes, que buscam respostas a uma inquietação em comum, qual seja, o destino da democracia. "Há futuro para a democracia num mundo dominado pelo capitalismo financeiro global, pelo colonialismo e pelo patriarcado nas relações sociais? Em caso afirmativo, a democracia do futuro romperá com o modelo democrático atualmente dominante?" (p. 7). A partir deste fio condutor, a obra - organizada em quatro partes além da introdução e do epílogo - ganhou um tom de unicidade, que possibilita uma leitura plena.
Na introdução, Boaventura realiza um tour pelo século XX e início do século XXI, a fim de lançar luzes para pensar os rumos da democracia no mundo contemporâneo. O autor enfatiza a disputa em torno da questão democrática e sustenta o princípio da demodiversidade para indicar o pluralismo e a diversidade que envolvem este campo, que requer qualificar de que democracia se trata. Ao lado do modelo hegemônico liberal, surgem modelos contra-hegemônicos, como a democracia participativa, entre outros. Como bem mostra o autor estes modelos não estão isentos de serem capturados e instrumentalizados em favor do sistema, sobretudo na conjuntura atual marcada por uma avalanche neoliberal, na qual “[...] a democracia, enquanto gramática social e acordo de convivência cidadã, desaparece para dar lugar à democracia instrumental, a democracia tolerada enquanto serve aos interesses de quem tem poder econômico e social para tanto” (p. 22).
Na primeira parte do livro, intitulada ‘Revolução e Transformação do Estado’, Boaventura realiza uma análise centrada na realidade de Portugal após a Revolução dos Cravos (1974), que levou ao fim o regime ditatorial, em 1974. O autor, apoiado na teoria de Immanuel Wallerstein, parte da compreensão que Portugal ocupa uma posição semiperiférica na região europeia do sistema mundial. O que leva o país a cumprir uma função de intermediação, ou seja, atuar “[...] como periférico em relação a um país central e como central em relação à periferia [...]” (p. 32), o que contribui para atenuar conflitos entre estas zonas. Conforme o autor, os anos posteriores à Revolução demonstraram as tentativas de Portugal em romper com esta posição.
Atento às disputas entre as forças sociais em Portugal, o autor esquadrinha as dificuldades de se estabilizar um modo de regulação social no país e como isto contribuiu para as metamorfoses do Estado: Estado paralelo, Estado heterogêneo, semi-Estado-Providência, Estado-como-imaginação-do-centro. De forma bastante peculiar, o autor expõe a complexidade do país em sua luta por construir e consolidar uma sociedade democrática.
O texto escrito em 1990 tem sua relevância renovada, uma vez que entre 2011 e 2015, as medidas de austeridade impostas pela União Européia à Portugal parecem não só reafirmar a posição semiperiférica do país e aprofundar a distância em relação aos países centrais, como ainda minar as bases de sustentação de uma democracia de alta intensidade.

Na segunda parte do livro Boaventura ocupa-se de acontecimentos dos últimos anos que podem de alguma maneira afetar a democracia. Já no título de um dos capítulos, ‘Por que Cuba se transformou num problema difícil para a esquerda?’, o autor demonstra a intrepidez que acompanhará suas análises.
De forma precisa, mas sem perder o rigor teórico, o autor conceitua: “Esquerda é o conjunto de teorias e práticas transformadoras que, ao longo dos últimos 150 anos, resistiram à expansão do capitalismo e ao tipo de relações econômicas, sociais, políticas e culturais que ele gera e que assim procederam na crença da possibilidade de um futuro pós-capitalista, de uma sociedade alternativa, mais justa, porque orientada para a satisfação das necessidades reais das populações, e mais livre, porque centrada na realização das condições do efetivo exercício da liberdade. A essa alternativa foi dado o nome genérico de ‘socialismo’.” (p. 74).
Com base neste entendimento, o autor aborda dois desafios históricos que acompanham a Revolução Cubana: como equilibrar resistência e alternativa e como combinar reforma e revolução. A resposta de Cuba a estes desafios no sentido de superação implica na capacidade do país aprender com o processo de renovação da esquerda quea própria experiência cubana contribuiu para ocorrer. Para o autor, os principais pontos de renovação da esquerda colocam em questionamento: uma dita teoria crítica vanguardista, sua forma de organização política no partido de vanguarda, a democracia liberal, o sujeito histórico pré-definido a partir da classe social e ‘a centralidade monolítica do Estado, bem como a suposta homogeneidade da sociedade civil’ (p. 80).
Boaventura tece críticas ousadas à experiência cubana ao indicar os dilemas enfrentados no país. Para o autor, Cuba poderá voltar a contribuir com a renovação da esquerda mundial, na medida em que se abrir ao campo de experimentação à sua frente. A radicalização da democracia, a pluralidade de organizações políticas, o constitucionalismo pensado a partir das classes populares, uma nova forma de centralidade do Estado na regulação social, a organização da produção a partir das alternativas populares são características do novo experimentalismo indicado por Santos.
O terceiro capítulo traz um conjunto de oito cartas, escritas entre 2012 e 2015 por Boaventura, sobre fatos “[...] portadores de sinais do tempo” (p. 11). Os comentários revelam a natureza ideológica da onda de privatizações, que articuladas à corrupção ganham a conotação de privataria. Comportam análises mais densas sobre o legado de Chaves e o futuro da revolução bolivariana após a morte deste líder. Tecem um exame cuidadoso sobre as causas das Manifestações que sacudiram o Brasil em junho de 2013 e também sobre o governo de Rafael Correa no Equador, que traz à tona questões importantes para a reflexão sobre os avanços e os limites dos governos progressistas que nos últimos quinze anos tomaram a cena na América Latina. Instigam, a partir da experiência do Podemos, as discussões sobre os novos arranjos de organizações partidárias que surgem no contexto de fortes ataques neoliberais que alimentam a descrença na democracia representativa e a desconfiança nos partidos tradicionais. Renovam o debate sobre as ações ostensivas do governo estadunidense com vistas a manter seu domínio e sobre a guerra política travestida de fanatismos religiosos cada vez mais frequentes na cena contemporânea europeia. Finalizam com apontamentos sobre a reação agressiva da direita na fase atual do capitalismo neoliberal.

A publicação de duas entrevistas realizadas com Santos, em 2010 e 2016, conferiu leveza à terceira parte do livro sem que afetasse a profundidade das análises. Na primeira, o autor versa sobre a democracia de forma mais geral, sustenta sua concepção de democracia socialista, bem como instiga uma leitura sobre a democracia representativa e a democracia participativa para além da lente liberal sem, contudo, perder de vista “[...] os limites da tensão entre aprofundamento democrático e reprodução capitalista ampliada” (p. 127). A sessão também aborda conceitos cunhados pelo autor nos últimos anos, tais como: Estado experimental, constitucionalismo transformador, demodiversidade, fascismo social, multiculturalismo emancipatório ou interculturalidade descolonial. A variedade de temas que atravessam o discurso do autor, como esquerda, socialismo no século XXI, sujeito histórico, movimentos sociais, expressam um convite que, com a abordagem da segunda carta sobre o populismo e governos de esquerda, torna irrecusável o debate sobre os desafios do campo democrático na atualidade.
A quarta parte do livro, ‘Reinventar as esquerdas’, é composta por uma compilação de treze cartas, escritas entre 2011 e 2016, em que Boaventura interpela às esquerdas sobre questões históricas e atuais que colocam as mesmas diante de uma urgente reinvenção. Para o autor “A política de esquerda tem de ser conjuntamente anticapitalista, anticolonialista e antissexista [...]. A esquerda do futuro tem de ser intercultural e se organizar com base na prioridade da articulação das lutas contra as diferentes dominações como condição necessária da eficácia das lutas” (p. 207).
No epílogo o autor lança mão da escrita literária e em tom futurista descreve a (ir)racionalidade capitalista no caminho que conduziu a humanidade à barbárie, num período em que as esquerdas, divididas, não conseguiram apontar uma saída. É preciso reinventar as esquerdas para construir a alternativa.
As inúmeras manifestações massivas e movimentos sociais que tomaram a cena em diferentes países nos últimos anos para reclamar a democracia real tornam o livro uma parada obrigatória para aqueles que desejam entender melhor a questão democrática.

terça-feira, 24 de abril de 2018

“Valeu?” "Ça valait le coup?" Vidéo pour le débat sur la citoyenneté et le droit à la ville



https://www.youtube.com/watch?v=l1Cmn7OlFEE

- Revitalisation urbaine? Mobilité urbaine durable? Privatisation de l'espace public? Opportunité pour de nouvelles affaires? Fonction sociale? Expulsion des résidents? Porto Maravilha est le projet de revitalisation urbaine le plus radical de la ville de Rio de Janeiro. Près d'une décennie après son lancement, la question demeure: cela valait-il la peine? Qui? L'Observatoire INCT Metropolis et SUPSI Université / Suisse a lancé le court-métrage (Valeu?) «Ça valait le coup?» Dans le but de fournir un outil qui aide les enseignants du secondaire à stimuler la discussion avec les élèves en classe sur des sujets tels que la démocratie et la citoyenneté d'une réalité concrète, d'une politique publique qui a transformé une partie du territoire de la ville de Rio.

- La vidéo «Ça valait le coup?» Le résultat du projet «Urban Regimes and Citizenship» organisée par le Réseau INCT Observatoire Metropolis et le Department of Business, Economic, Health and Social Care (DEASS) de SUPSI Université de Lugano, en Suisse.

- Selon le professeur Luiz Cesar Ribeiro de Queiroz, destiné à produire la vidéo était de fournir un outil de discussion, conçu pour les élèves du secondaire sur le thème de la citoyenneté et de sa relation avec la ville, de l'analyse d'une action urbaine, dans le cas de Porto Maravilha.

- « Nous avons choisi Porto Maravilha être le thème de cette vidéo afin d'apporter à la classe une question qui est devenue publique, tout le monde a appris avec un certain degré d'information, depuis un appareil médiatique entier a été utilisé pour faire connaître l'opération dans la zone portuaire. L'objectif était de produire une vidéo didactique de discussion, de réflexion sur le droit à la ville et les questions qui traversent l'urbain. Ainsi, la vidéo est plus ouvert, propose une dialogique, une multitude de voix, souvent décousue et en face dans leurs commentaires de l'expérience urbaine Opération “Porto Maravilha” , dit Luiz Cesar et complet:


- "L'équipe de l'Observatoire de Metropolis estime qu'il est essentiel de former dans les écoles publiques sur les thèmes de la citoyenneté et du droit à la ville. Et pour cela, nous avons besoin en tant qu'Université de développer des produits qui dialoguent directement avec les jeunes, parlent leur langue. Et plus que d'offrir une vision fermée sur le sujet, nous voulons provoquer la réflexion. Et non seulement la réflexion abstraite sur ce qui est la démocratie, etc., mais demandez pour les jeunes car il évalue une politique publique qui a changé la dynamique de la ville, qui a été conçu et promu comme le plus grand projet urbain à Rio. Comme les jeunes voient? Comment est-ce affecté? Comment peut-il formuler une pensée critique sur des thèmes liés à la ville? ", Explique Ribeiro.

- Un mode de réalisation de la production d'idées visuelles, la vidéo «Ça valait le coup?» N'a pas été conçu pour être un documentaire sur le Porto Maravilha, avec des détails de présentation sur la conception, les objectifs, les valeurs, etc. L'idée était plus la production d'un matériel audiovisuel qui pourrait mettre beaucoup de voix pour parler de processus de revitalisation urbaine de la zone portuaire, les intervenants, les perspectives sur la façon de transformer la ville et à qui.

- Dans encore Luiz Cesar Ribeiro, la vidéo n'a pas entrepris de déposer une plainte ou une évaluation critique de l'opération urbaine de Porto Maravilha - ce que l'Observatoire Metropolis Réseau INCT a été fait depuis 2009 pour surveiller tous les impacts, les objectifs et les valeurs concernant au projet.


- En ce sens, (Valeu?), «Ça valait le coup?» A un rôle pédagogique clair, puisqu'il ne cherche pas à donner la priorité à un seul côté de l'histoire. "Cela nous a conduit à faire une vidéo qui polémerait, pour construire le récit à travers des points de vue différents et contradictoires sur ce processus. Depuis donner la parole à la population qui utilise ce lieu, les touristes, les travailleurs locaux, les personnes qui utilisent cet endroit pour leurs loisirs; activistes et défenseurs des causes sociales sur ce territoire. Nous avons également fourni des espaces pour que les autorités publiques donnent leur vision, et aussi la voix de l'autorité académique - ce qui explique ce qu'est ce processus d'entrepreneuriat urbain, ses effets, positifs et négatifs. De cette manière, nous avons un récit qui polémise face à différentes visions sur cette même réalité, à partir de ses lieux spécifiques. Autorité parlant en tant qu'autorité; autorité académique parlant en tant qu'autorité académique; population générale parlant de leurs points de vue; La population organisée s'exprime ainsi ", explique Ribeiro.
- Pour le chercheur du Nicaragua Humberto Mario Meza, post-doc INCT Observatoire Metropolis et l'un des responsables de la recherche sur le Porto Maravilha pour la vidéo «Ça valait le coup?» A été très difficile et une partie passionnante d'un processus que l'objectif de traduire les informations techniques et spécialisé dans un langage familier, nécessaire pour le débat. "Nous avons toujours voulu que le produit de notre travail mène à quelque chose qui stimulerait la discussion, ce qui nous obligeait à discuter et à peaufiner un script qui seraiten compte le point de vue des habitants, des touristes, des résidents et des citoyens avec la vision des bureaucrates et des représentants du concédant au même niveau «a déclaré Meza et ajoute: » 


 - En bref, l'idée était approche toujours le Porto Maravilha à la vie quotidienne et comment Cela a une incidence sur ceux qui y vont ou y vivent. Pensez à l'impact de l'évolution de la vie des gens est une dimension fondamentale de la citoyenneté et le droit des gens profitent de la ville. Je peux dire que la vidéo a atteint l'objectif de montrer la diversité des facteurs impliqués dans cette opération urbaine. Notre plus grande curiosité est de savoir maintenant réaliser cet objectif et quel genre de réaction l'augmentation de ceux qui regardent cette production « .

- La INCT Observatoire Metropolis est de valider maintenant la méthodologie en partenariat avec les techniciens du Département d'Etat de l'éducation de prendre la vidéo «Ça valait le coup?» pour les écoles publiques à Rio de Janeiro.Veja la vidéo ci-dessous: 

FICHE TECHNIQUE
Durée totale: 16:40 minutes
Réalisé par: Ideias Visuais
Coordination académique: Luiz César de Queiroz Ribeiro (IPPUR/UFRJ) et Filippo Bignami (SUPSI)
Recherche: Humberto Meza (Observatório das Metrópoles), Ana Paula Carvalho (PUC-Rio) et Niccolò Cupinni (SUPSI)
Support: CNPq, FAPERJ et FNS


Texte produit par Breno Procopio, Conseillère en communications INCT Metropolis Observatoire en réseau.

Traduction: Adalton da Motta Mendonça. 24/04/2018.


Application à propos de l'histoire de Porto: >> https://apublica.org/2017/06/museu-do-ontem/

Pour en savoir plus:
http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/558873-a-outra-historia-do-porto-maravilha

"Valeu?" Vidéo pour le débat sur la citoyenneté et le droit à la ville.



“Valeu?”  "Ça valait le coup?" Vidéo pour le débat sur la citoyenneté et le droit à la ville

https://www.youtube.com/watch?v=l1Cmn7OlFEE

- Revitalisation urbaine? Mobilité urbaine durable? Privatisation de l'espace public? Opportunité pour de nouvelles affaires? Fonction sociale? Expulsion des résidents? Porto Maravilha est le projet de revitalisation urbaine le plus radical de la ville de Rio de Janeiro. Près d'une décennie après son lancement, la question demeure: cela valait-il la peine? Qui? L'Observatoire INCT Metropolis et SUPSI Université / Suisse a lancé le court-métrage (Valeu?) «Ça valait le coup?» Dans le but de fournir un outil qui aide les enseignants du secondaire à stimuler la discussion avec les élèves en classe sur des sujets tels que la démocratie et la citoyenneté d'une réalité concrète, d'une politique publique qui a transformé une partie du territoire de la ville de Rio.

- La vidéo «Ça valait le coup?» Le résultat du projet «Urban Regimes and Citizenship» organisée par le Réseau INCT Observatoire Metropolis et le Department of Business, Economic, Health and Social Care (DEASS) de SUPSI Université de Lugano, en Suisse.

- Selon le professeur Luiz Cesar Ribeiro de Queiroz, destiné à produire la vidéo était de fournir un outil de discussion, conçu pour les élèves du secondaire sur le thème de la citoyenneté et de sa relation avec la ville, de l'analyse d'une action urbaine, dans le cas de Porto Maravilha.

- « Nous avons choisi Porto Maravilha être le thème de cette vidéo afin d'apporter à la classe une question qui est devenue publique, tout le monde a appris avec un certain degré d'information, depuis un appareil médiatique entier a été utilisé pour faire connaître l'opération dans la zone portuaire. L'objectif était de produire une vidéo didactique de discussion, de réflexion sur le droit à la ville et les questions qui traversent l'urbain. Ainsi, la vidéo est plus ouvert, propose une dialogique, une multitude de voix, souvent décousue et en face dans leurs commentaires de l'expérience urbaine Opération “Porto Maravilha” , dit Luiz Cesar et complet:


- "L'équipe de l'Observatoire de Metropolis estime qu'il est essentiel de former dans les écoles publiques sur les thèmes de la citoyenneté et du droit à la ville. Et pour cela, nous avons besoin en tant qu'Université de développer des produits qui dialoguent directement avec les jeunes, parlent leur langue. Et plus que d'offrir une vision fermée sur le sujet, nous voulons provoquer la réflexion. Et non seulement la réflexion abstraite sur ce qui est la démocratie, etc., mais demandez pour les jeunes car il évalue une politique publique qui a changé la dynamique de la ville, qui a été conçu et promu comme le plus grand projet urbain à Rio. Comme les jeunes voient? Comment est-ce affecté? Comment peut-il formuler une pensée critique sur des thèmes liés à la ville? ", Explique Ribeiro.

- Un mode de réalisation de la production d'idées visuelles, la vidéo «Ça valait le coup?» N'a pas été conçu pour être un documentaire sur le Porto Maravilha, avec des détails de présentation sur la conception, les objectifs, les valeurs, etc. L'idée était plus la production d'un matériel audiovisuel qui pourrait mettre beaucoup de voix pour parler de processus de revitalisation urbaine de la zone portuaire, les intervenants, les perspectives sur la façon de transformer la ville et à qui.

- Dans encore Luiz Cesar Ribeiro, la vidéo n'a pas entrepris de déposer une plainte ou une évaluation critique de l'opération urbaine de Porto Maravilha - ce que l'Observatoire Metropolis Réseau INCT a été fait depuis 2009 pour surveiller tous les impacts, les objectifs et les valeurs concernant au projet.

- En ce sens, (Valeu?), «Ça valait le coup?» A un rôle pédagogique clair, puisqu'il ne cherche pas à donner la priorité à un seul côté de l'histoire. "Cela nous a conduit à faire une vidéo qui polémerait, pour construire le récit à travers des points de vue différents et contradictoires sur ce processus. Depuis donner la parole à la population qui utilise ce lieu, les touristes, les travailleurs locaux, les personnes qui utilisent cet endroit pour leurs loisirs; activistes et défenseurs des causes sociales sur ce territoire. Nous avons également fourni des espaces pour que les autorités publiques donnent leur vision, et aussi la voix de l'autorité académique - ce qui explique ce qu'est ce processus d'entrepreneuriat urbain, ses effets, positifs et négatifs. De cette manière, nous avons un récit qui polémise face à différentes visions sur cette même réalité, à partir de ses lieux spécifiques. Autorité parlant en tant qu'autorité; autorité académique parlant en tant qu'autorité académique; population générale parlant de leurs points de vue; La population organisée s'exprime ainsi ", explique Ribeiro.
- Pour le chercheur du Nicaragua Humberto Mario Meza, post-doc INCT Observatoire Metropolis et l'un des responsables de la recherche sur le Porto Maravilha pour la vidéo «Ça valait le coup?» A été très difficile et une partie passionnante d'un processus que l'objectif de traduire les informations techniques et spécialisé dans un langage familier, nécessaire pour le débat. "Nous avons toujours voulu que le produit de notre travail mène à quelque chose qui stimulerait la discussion, ce qui nous obligeait à discuter et à peaufiner un script qui seraiten compte le point de vue des habitants, des touristes, des résidents et des citoyens avec la vision des bureaucrates et des représentants du concédant au même niveau «a déclaré Meza et ajoute: » 

 - En bref, l'idée était approche toujours le Porto Maravilha à la vie quotidienne et comment Cela a une incidence sur ceux qui y vont ou y vivent. Pensez à l'impact de l'évolution de la vie des gens est une dimension fondamentale de la citoyenneté et le droit des gens profitent de la ville. Je peux dire que la vidéo a atteint l'objectif de montrer la diversité des facteurs impliqués dans cette opération urbaine. Notre plus grande curiosité est de savoir maintenant réaliser cet objectif et quel genre de réaction l'augmentation de ceux qui regardent cette production « .

- La INCT Observatoire Metropolis est de valider maintenant la méthodologie en partenariat avec les techniciens du Département d'Etat de l'éducation de prendre la vidéo «Ça valait le coup?» pour les écoles publiques à Rio de Janeiro.Veja la vidéo ci-dessous: 

FICHE TECHNIQUE
Durée totale: 16:40 minutes
Réalisé par: Ideias Visuais
Coordination académique: Luiz César de Queiroz Ribeiro (IPPUR/UFRJ) et Filippo Bignami (SUPSI)
Recherche: Humberto Meza (Observatório das Metrópoles), Ana Paula Carvalho (PUC-Rio) et Niccolò Cupinni (SUPSI)
Support: CNPq, FAPERJ et FNS


Texte produit par Breno Procopio, Conseillère en communications INCT Metropolis Observatoire en réseau.

Traduction: Adalton da Motta Mendonça. 24/04/2018.


Application à propos de l'histoire de Porto:
https://apublica.org/2016/08/a-outra-historia-do-porto-maravilha/
Pour en savoir plus:
http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/558873-a-outra-historia-do-porto-maravilha

terça-feira, 3 de abril de 2018

Le Brésil sous le choc après l'assassinat de l'élue noire Marielle Franco

Le meurtre de cette conseillère municipale de Rio qui militait contre le racisme et la violence policière suscite une forte mobilisation.

Par L'Obs -  Publié le 17 mars 2018 à 15h02


Deux jours après l'assassinat de la conseillère municipale de Rio de Janeiro Marielle Franco, le Brésil était encore submergé par l'émotion et le sentiment de révolte face à ce crime apparemment commis avec des munitions provenant de stocks de la police.

L'indignation n'a pas faibli après l'assassinat de cette femme charismatique de 38 ans fortement engagée contre le racisme et la violence policière, criblée de balles à l'arrière de sa voiture. Marielle Franco était noire, lesbienne, issue des favelas, et elle avait critiqué la décision du président Michel Temer de déléguer à l'armée la sécurité des favelas.


Jeudi 15 mars, 50.000 personnes ont manifesté leur colère et leur chagrin dans les rues de Rio de Janeiro, quelque 30.000 à Sao Paulo et des milliers d'autres dans d'autres grandes villes du pays.

Vendredi dans le centre de Rio, des affichettes à l'effigie de Marielle Franco étaient placardées sur des lampadaires, tandis qu'en soirée, plusieurs centaines de personnes se sont rassemblées devant l'assemblée à Rio pour demander justice avant d'entamer une marche dans le centre-ville.

Les murs blancs du siège du conseil municipal, place Cinelandia, étaient tagués avec de nombreux slogans hostiles à la police et le gouvernement du président conservateur Michel Temer.

Des balles d'origine policière
TV Globo, la plus grande chaîne du pays, a révélé vendredi que les balles de calibre 9 mm qui ont tué la conseillère municipale et son chauffeur mercredi venaient d'un lot vendu à la police fédérale en 2006.

Plus troublant encore, une partie des balles utilisées dans l'assassinat de 17 personnes près de Sao Paulo en août 2015 provenaient de ce même stock. À l'époque, trois policiers militaires avaient été condamnés pour ce massacre.

La police fédérale a indiqué dans un communiqué qu'une enquête avait été ouverte "pour évaluer l'origine des munitions (...) retrouvées sur le lieu du crime".

En soirée, le ministre de la Sécurité, Raul Jungmann, a confirmé l'origine policère des balles utilisées, volées selon lui "des années plus tôt" à la police, dans l'Etat du Paraiba (nord), à plus de 2.000 km de Rio.

Brésil : une vidéo guide de survie pour les Noirs face aux forces de l'ordre
En 2016, une commission parlementaire de l'Assemblée de Rio avait établi l'implication de policiers, gardiens de prison et militaires dans un réseau de trafic d'armes.

Pour Chico Alencar, député du Parti Socialisme et Liberté (PSOL), formation de gauche avec laquelle Marielle Franco avait été élue, "si l'enquête est faite sérieusement, sans craindre de secouer les poches de corruption, de violence et de crime dans l'Etat, on peut élucider ce crime en deux semaines".

"Combien d'autres vont devoir mourir ?"
Tous les grands journaux brésiliens ont publié en une vendredi des photos de la foule immense massée la veille pour lui rendre un dernier hommage.

Les deux quotidiens de Rio, "O Globo" et "O Dia", ont cité la phrase "combien d'autres vont devoir mourir?", publiée par Marielle Franco mardi sur les réseaux sociaux, à la veille de sa propre mort.


Elle avait écrit ce message en réaction au décès d'un jeune tué par balles alors qu'il sortait d'une église, une possible bavure policière.

"Ferguson, c’est aussi ici" : le Brésil contre le racisme de sa police
Pour le journal "Estado de Sao Paulo", l'assassinat de Marielle Franco "a réveillé un géant endormi", avec une forte mobilisation transcendant les clivages politiques, qui tranche avec le faible succès des manifestations convoquées ces derniers mois par les mouvements contestataires.

Même la star du football Neymar s'est manifestée, publiant sur Instagram une photo en noir et blanc de la conseillère municipale accompagnée de ce message: "Ils ne vont pas nous faire taire".

"Ils ont tué ma mère et plus de 46.000 électeurs", a écrit jeudi soir la fille de la conseillère, Luyara Santos, âgée de 19 ans, sur Twitter, une allusion au nombre de voix recueillies par Marielle Franco aux municipales de 2016.

Rassemblements au Brésil et en Europe
Le PSOL a organisé une réunion publique sur une place du centre à la mi-journée. Un autre rassemblement était prévu en fin d'après-midi à Maré, une des favelas les plus dangereuses de Rio, où Marielle Franco a grandi - sa plus grande fierté.


Les hommages à ce symbole de la lutte des femmes noires brésiliennes contre tout type de discrimination étaient également prévus en dehors du Brésil, dans plusieurs villes d'Europe.

À Londres, les ONG The London Latinxs et Democracy Brazil-UK ont convoqué en fin d'après-midi un rassemblement qui a réuni une cinquantaine de personnes devant l'ambassade du Brésil. Une manifestation est également organisée à Paris ce samedi place de l'Opéra.

(Avec AFP)

quarta-feira, 14 de março de 2018

Marielle Franco, une voix des favelas de Rio étouffée par les balles


Marielle Franco, une voix des favelas de Rio étouffée par les balles
Par AFP — 15 mars 2018 à 20:10 (mis à jour à 20:12)



Funérailles de Marielle Franco , conseillère municipale assassinée à Rio de Janeiro, le 15 mars 2018
Photo Mauro Pimentel. AFP  


Março de 1968 e Março de 2018: Edson Luiz de Lima Souto e Marielle Franco, “Presentes!”



Marielle Franco, une voix des favelas de Rio étouffée par les balles

Née dans une favela, Marielle Franco, conseillère municipale de gauche de Rio de Janeiro, était un symbole de la lutte des femmes noires brésiliennes contre le racisme et la violence policière avant de se faire assassiner à 38 ans.

Mercredi soir, la voiture où elle se trouvait a été criblée de balles, en plein centre-ville.

La jeune femme, qui vivait avec sa compagne à Tijuca, quartier de classe moyenne de Rio, laisse une fille de 19 ans.

La dernière image de Marielle Franco est une vidéo sur son compte Facebook dans laquelle on la voit participer un débat public dans le quartier Bohême de Lapa.

La conseillère municipale y apparaît vêtue d’un débardeur bleu et d’un pantalon à fleurs, arborant une coupe afro et des cheveux teints en blond, à l’écoute d’autres jeunes femmes noires comme elle qui racontent leurs expériences.

«Marielle était souriante, forte, sûre d’elle et avait les pieds sur terre. Elle regardait les gens des yeux et savait qu’elle était différente des autres élus qu’elle côtoyait», explique à l’AFP Marcela Lisboa, productrice culturelle et amie de longue date de la conseillère municipale, avec qui elle a longtemps milité au sein du Parti de gauche socialisme et liberté (PSOL).

- Fusillades meurtrières -

«Femme, noire, mère et issue de la favela de Maré». C’est ainsi que Marielle aimait se présenter.

Maré, c’est une des favelas les plus violentes de Rio, située au nord de la ville, non loin de l’aéroport international.

Ce vaste quartier peuplé de 140.000 habitants vit depuis des années au rythmes des fusillades, entre guerres des gangs de narcotrafiquants et interventions musclés des forces de l’ordre qui tentent de s’interposer.

La vie de Marielle Franco a basculé quand une de ses amies a été fauchée par une balle perdue lors d’une des ces fusillades, peu après leur inscription dans un cours préparatoire à l’université destinée aux jeunes des favelas.

C’est à ce moment-là qu’elle a décidé de se consacrer à la défense des droits de l’homme.

La jeune carioca a dû interrompre ses études après être tombée enceinte à 18 ans, mais s’est accrochée en prenant des cours du soir.

Elle a fini par obtenir une bourse pour étudier dans l’université catholique PUC, une des plus prestigieuse, où elle a décroché un diplôme de sociologie, avant de se spécialiser dans l’administration publique .

Marielle s’est ensuite fait un nom en tant que militante associative, avant s’engager en politique auprès du PSOL.

En 2006, elle est devenue assistante parlementaire de Marcelo Freixo, député emblématique qui a reçu de nombreuses menaces de mort après avoir dirigé une commission parlementaire sur les milices paramilitaires qui sèment la terreur dans certaines favelas.

- Élection inespérée -

Dix ans plus tard, la jeune femme a décidé de faire le grand saut et présente sa candidature au Conseil municipal, avec un résultat qui dépasse ses espérances.

Avec plus de 46.000 voix, elle est arrivée au cinquième rang des conseillers ayant obtenu le plus de voix.

«Je ne m’attendais pas à recueillir plus de 6.000 voix. Je suis très heureuse parce que c’est une réponse dans les urnes à ceux qui veulent nous éloigner des débats, nous, les femmes noires des favelas», avait-elle affirmé dans un entretien au journal étudiant de la PUC après son élection.

Au conseil municipal, elle a notamment présenté un projet de loi pour que la ville recense les statistiques de violences contre les femmes.

Marielle Franco s’est aussi élevée contre la décision du président brésilien Michel Temer de confier en février à l’armée la sécurité de Rio pour tenter de contenir l’escalade de la violence.

Il y a deux semaines, elle avait été désignée rapporteur d’une commission créée par le Conseil municipal pour surveiller d’éventuels abus des militaires.

Un sujet qui lui tenait particulièrement à coeur: en 2014 et 2015, la favela de Maré avait été occupée par les soldats et de nombreux habitants avaient dénoncé diverses exactions.



AFP

Redes municipales y cooperativismo: una articulación desde la escala local (Argentina y Brasil, a principios de siglo XXI) (Ariel García, Javier W. Ghibaudi, Adalton Mendonça.

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